quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Cristina

Logo que nos conhecemos, olhava Cristina da praia, constrangido por vê-la única entre tantos surfistas.
O mar agitado escondia-a de mim, movimentos que lembravam o das bandeiras que a massa agita nos estádios ou o vaivém dos corpos encobertos pelos lençóis.
Nas primeiras vezes, eu não sossegava, apreensivo, ansioso por sua sorte. Pouco a pouco, porém, meus olhos não mais acompanhavam suas manobras, como a nudez que se apaga na observação cotidiana. Talvez, por isso, quase não reconheci a prancha que veio morrer a meus pés.
Depois os rumores de um ataque de tubarão.
As equipes de resgate vasculhavam as águas, nenhum sinal de Cristina. Senti que me tocavam o ombro e me arrastavam até o posto salva-vidas.
Quatro horas depois abandonaram as buscas. Falaram alguma coisa sobre guarda-costeira.
Que não me fosse devolvida, pensei, como um carro roubado que mais bem estará na voz da telefonista da seguradora como o valor do prêmio pela perda total.

Nenhum comentário: