sábado, 7 de junho de 2008

Bia

Bia comprou um gato, mas continuava se sentindo sozinha, pois o bichano lembrava muito seu ex-marido, na terna indiferença que lhe votava. Depois comprou um cachorro, que era humilde como o primeiro namorado. Em seguida tentou um papagaio - com quem no máximo podia simular saudosas e repetidas discussões -, e ainda um coelho e um chinchila e um furão e peixes e uma iguana e depois o pensamento nada consolador de que talvez Noé também tivesse experimentado essa soledade entre animais.
Havia, contudo, uma saída, solução que lhe deu uma das fêmeas do áquario. Esperou o dia certo, montou-se e foi para a noite. No meio da madrugada voltava, o líquido ainda lhe escorrendo entre as coxas.
Era uma saída precária, sabia, mas ao menos por nove meses e uma infância inteira teria alguém para acompanhá-la.

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